Os livros abertos no chão. As flores mortas do vaso caídas por sobre a cômoda. A luz do sol de inverno entrando pela fresta na madeira que existe no meu quarto. Por entre ela o vento às vezes me traz uma folha seca. Duas, talvez. Meu suco de maracujá apodrece intacto esverdeando um copo em cima da mesa. O jornal se acumula na frente da porta de casa. O braço da agulha do toca-discos quebrou. Ela agora insiste em repetir o mesmo lado do velho disco do Dire Straits, como se tivesse sido programada pra isso. Mas nem isso é problema, por que a poeira se acumulou na caixa de som e ela não toca. Não emite som. Emudeceu. Assim como eu.
Faz silêncio na minha alma. A vida segue e eu não. As pessoas passeiam embaixo da minha janela. O gato da vizinha se instalou no meu apartamento. Come as sobras da comida. As flores na sacada também secaram. Eu culpo o inverno. Mas o meu descuido é o real culpado. Flores vítimas de mim. De meu descaso. Do meu entorpecimento.
Eu abro a boca pra falar e o barulho é de tentar tocar uma corda frouxa de violão. Sai tudo torto. A neve se acumula na varanda da cozinha. A casa se acumula tanto de solidão que não sobra espaço pra mim. Não sei o que a vida fez de mim. Só sei que respiro nostalgia. Tudo com aquele cheiro doce de poeira. Vejo o vento pelar as árvores. Vejo o sol se escondendo mais cedo. Surgindo mais tarde. Não vejo a Lua. Não saio mais na rua.
Me pergunto aonde estará você. Se o tempo passa estranho assim pra você como é pra mim. Me pergunto se aquela música da Janis ainda te faz arrepiar. Se você ainda dorme com o braço pra fora da cama. Quem sabe um dia desses te reencontrar. Te dar um tchauzinho do outro lado da rua. Quem sabe te ver, quem sabe aprender a te odiar. Tocar novamente o barquinho da vida. Apontar pra fé e remar.
P.s.: me influencio por músicas às vezes, e escrevo o que elas me passam, mesmo que não sinta aquilo de verdade. No caso desse post, foi Miss You Love, do Silverchair e Beautiful War, do Kings of Leon.
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