quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A minha fumaça era a fumaça da cidade.

Decidi acender um cigarro pra fazer minha fumaça se juntar à poluição da cidade. A parte oeste do céu brilhava em tons de rosa e laranja, aqueles doces e lindos tons de uma cidade prejudicada pela poluição. O sol incandeava, aquela grande e gorda bola laranja de fogo. Do outro lado da avenida cheia de carros barulhentos e motoristas impacientes, eu via ele passar com o skate na mão. Assim que me viu, me deu um tchauzinho e me olhou com aqueles olhos tristes de saudade. Saudade do meu corpo junto ao dele naquela cama de solteiro. Vontade de nos ver de novo pelo espelho, deitados na cama e abraçados. Eu odeio despedidas, por um acaso eu já falei isso? Ele me deixou na parada de ônibus, a enorme mochila nas minhas costas. Beijou-me o rosto, pois sabia que se me beijasse na boca nenhum dos dois iria pra casa.

Fiquei aqui fumando sem saber se eu estava tonta do cigarro depois de 6hrs de jejum ou se ainda estava com a presença - e agora ausência - dele. A espera pelo ônibus parecia interminável agora que ele não estava mais aqui. A vontade era correr na direção contrária, mesmo que isso significasse ficar naquela zona de poluição que é a região metropolitana. Ou de ter ele na serra.

Malditas sejam as aulas que teríamos à noite. Maldito seja o trabalho no outro dia. Eu só queria ficar com ele, em um lugar mais calmo, de preferência. Eu queria o sexo com ele e o abraço preguiçoso no fim de tudo. Corpos exauridos. Almas satisfeitas.

domingo, 17 de agosto de 2014

I miss you, but I don't want you here anymore


Às vezes eu esqueço o quanto é bom escrever. Mas aí eu sempre sou tomada por essa onda de sentimentos que tenho medo de explodirem dentro de mim. Minha melhor saída, a perfeita válvula de escape, sempre foi escrever. Sobre mim, sobre o mundo, sobre ti, sobre tudo. Mas aí parei para pensar quando tinha sido a última vez que eu tinha escrito algo sobre ti. Tu foi embora dos meus textos. Tua presença lentamente foi extinguindo-se dos meus dedos, enquanto a mente e o coração se esforçavam para te dissolver da memória. Como podemos ter tomado rotas tão diferentes, se éramos tão iguais? Se éramos um só, um par?


Eu sempre nego essa linha de pensamentos, mas hoje não deu. Hoje eu lembrei de tudo que eu amava e odiava em ti e em nós. Me coloquei na linha de fogo e analisei algumas coisas que eu vivia fazendo errado também, afinal, quem sou eu para achar que eu estava certa? Não, eu não estava. Nem tu. Nem ninguém. Não sei se precisávamos estar certos, mas quer saber? Às vezes eu só preciso do teu abraço. Desses que fazem parar o mundo. Que fazem interromper os segundos. O mundo sem você é facilmente maleável, mas de vez em quando eu sinto falta de te ter e ter todos os problemas que tu sempre trazia contigo. Só pra te ter.


Acaba que a vontade sempre passa. No fim das contas eu chego à conclusão que eu não sou forte o suficiente (ou não sou mais tão otária) pra voltar e tudo acontecer de novo. Meu corpo e mente estão exauridos de coragem pra tentar tudo mais uma vez, chorar de novo pelos mesmos motivos. Pra passar por aquela merda toda só pra te ter. Eu gosto de ficar assim, só lembrando as partes que não me fazem chorar. As partes que me fazem rir. E eu aqui escutando Pijama Show. Algo que eu nunca fiz com você, mas que sempre me fazia lembrar de ti.


Toca R.E.M. E eu fico pensando nesse meu defeito e/ou qualidade de só conseguir escrever com música. Mas dessa vez não escolhi. Dessa vez não foi proposital. Só comecei a pensar em ti e puf: resolvi escrever. É que na verdade eu esqueço o quanto é bom afundar os dedos no teclado do notebook e digitar o que a mente manda. É que na verdade eu começo a lembrar de você. É que na verdade eu sei por que é tão difícil te esquecer. Eu roubei de você uma parte sua e ela vai estar sempre aqui comigo. Levei de ti uma das suas melhores partes: aquela que me fez sorrir, aquela que me fez te amar. Aquele teu sorriso, sabe? Aquele que era só meu. Era meu e levei pra mim. Guardo junto ao peito e lembro do quanto era gostoso aquele sorriso largo de dentes brancos, nariz comprido olhos apertados, cabelos cacheados. Guardo no peito e vou levando a saudade, que não vai mais ser matada, por ser muito boa de sentir.


Sinto que vou escrever o mundo. Eu já deveria ter parado, mas o fluxo segue. As palavras só vão saindo. Acho que sinto a tua falta, porém não te quero mais. O baile segue, de qualquer forma.


Mas deixa assim que tá gostoso. Essa saudade do que eu nunca mais quero ter.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Uma viagem ácida.

É preciso conectar as partes desconexas. Há uma necessidade inquietante de juntar as partes perdidas de um todo, partes desalinhadas de uma história em quatro partes, as sensações, as visões e os lugares de cada um dos pedaços desconvexos de um quadrado anguloso e que em cada ângulo há um tipo de visão sem noção da realidade. Mas o que é realidade? É o que a sociedade cria ou o que a gente vivencia? Vivemos ou sobrevivemos? Andamos ou nos perdemos? Há eternamente um desalinhavo desse mundo, desse universo que dizem que é complexo, mas porém descomplicado. Estamos em retrocesso tentando voltar ao tempo onde tudo era natural, onde éramos ser, mas não humanos, éramos entes próximos ao natural, à natureza, ao tudo e ao nada, à majestidade de viver, à sapiência que se busca no alto de morros e se afunda em negros mares.

Quem é o ser humano? Quem é você? Tu, homem estúpido e cruel, que destrói as fantasias de quem quer viver, de quem quer sonhar, de quem quer ser livre, de quem quer respirar. Vestimos a carapuça que a sociedade nos coloca, como se fôssemos meros robôs, que são jogados nessa fábrica que é o mundo, e que não é para se ter vida, é para sermos escravos de uma mentira que é vendida para nós como se fosse a vida. Não me escraviza, humanidade, eu quero ar, quero liberdade, quero sem destino e quero solidão. Quero desatinar,  quero o descontrole, quero me jogar, quero viver e não quero pensar, quero agarrar-me à liberdade de viver, mas não viver dessa forma falsificada de vida que dizem que devemos viver. Quem diz? Por que?

Palmilharei por aí, tentando descobrir, tentando encontrar, sempre permitir e nunca negar, o não é uma mentira obstinada das pessoas que se negam a se libertar dessa escrotidão de vida, que não te permite ficar de braços abertos contra o vento, sentindo o vento entrar e sair da sua cabeça, ouvir o barulho do vento fazendo a curva, só sentir, só sonhar, só curtir, só imaginar. Só viver.