Ando por aí. Andarilho vagabundo. Não tenho casa, não tenho lar. Não tenho raízes. Não tenho pra onde voltar. Me desprendi do mundo. Vi as paredes do universo ruírem, e caírem logo em seguida. Vi coisas que ninguém nunca notou. Porque tudo aconteceu no meu próprio mundo, e por isso, me fecho pro mundo dos outros. Me fecho em tanta dor, que não cabe em mim. Por onde passo com meus passos vadios, causo sufoco, pânico. Agonia. Minha dor contagia. Dor de quem já foi escravo do teu sorriso. Dor de quem já comeu migalhas do teu amor. Dor de quem já se contentou em ter apenas minutos de tua presença. E me bastava. Me satisfazia esse amor miserável. Me satisfazia a miséria que era tua atenção a mim. E tu arruinou o pouco que me era muito. Sorriu na despedida, quando me deu o nada. Por isso eu sofro. E de tanta dor, de tanto pranto, não consigo mais parar em um só lugar. Minha dor arruina vidas. Minha dor destrói almas. Minha agonia aniquila sonhos. Por isso eu ando por aí. Infinitamente. Sem parar demais em algum canto. Esperando recuperar um dia um sorriso que não me pertence mais. Está em tuas mãos. E tu, cruelmente brinca com ele. Por isso eu sigo. Como andarilho vagabundo. Sem nunca parar. Sem nem sequer respirar.
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Andarilho só
Ando por aí. Andarilho vagabundo. Não tenho casa, não tenho lar. Não tenho raízes. Não tenho pra onde voltar. Me desprendi do mundo. Vi as paredes do universo ruírem, e caírem logo em seguida. Vi coisas que ninguém nunca notou. Porque tudo aconteceu no meu próprio mundo, e por isso, me fecho pro mundo dos outros. Me fecho em tanta dor, que não cabe em mim. Por onde passo com meus passos vadios, causo sufoco, pânico. Agonia. Minha dor contagia. Dor de quem já foi escravo do teu sorriso. Dor de quem já comeu migalhas do teu amor. Dor de quem já se contentou em ter apenas minutos de tua presença. E me bastava. Me satisfazia esse amor miserável. Me satisfazia a miséria que era tua atenção a mim. E tu arruinou o pouco que me era muito. Sorriu na despedida, quando me deu o nada. Por isso eu sofro. E de tanta dor, de tanto pranto, não consigo mais parar em um só lugar. Minha dor arruina vidas. Minha dor destrói almas. Minha agonia aniquila sonhos. Por isso eu ando por aí. Infinitamente. Sem parar demais em algum canto. Esperando recuperar um dia um sorriso que não me pertence mais. Está em tuas mãos. E tu, cruelmente brinca com ele. Por isso eu sigo. Como andarilho vagabundo. Sem nunca parar. Sem nem sequer respirar.
terça-feira, 26 de novembro de 2013
Vó Luíza
Eu não sou filha da puta. Sou neta da puta. Minto. Apesar de minha mãe ter sido parida por uma mulher da vida, ela não é minha vó. Não é mãe da minha mãe. Minha mãe e eu discordamos de quase tudo, mas concordamos nisso. Sua mãe, minha vó é a Vó Luíza.
A progenitora verdadeira da minha era prostituta em começo de carreira, resgatada pelo meu vô em seu cavalo branco, levada para uma casa só dela, onde ela poderia criar seus filhos e alimentar o marido de outra (o meu vô). Teve minha mãe e logo depois a minha tia. E depois? Voltou a vida de antes. Não adianta príncipe de cavalo branco ir em resgate se a pessoa não quer ser resgatada.
Pois bem. Minha mãe era criança e minha tia mais criança ainda. Ambas foram abandonadas, e meu avô, que tinha outra esposa e outros filhos, não ficou sabendo de nada até o dia em que minha mãe percorreu a vizinhança segurando minha tia pela mão e pedindo comida. Uma alma caridosa contou pro meu avô.
Meu avô não gostou nada. Tirou minha mãe e minha tia de lá e levou elas embora. Encontrou uma senhora de 60 anos chamada Luíza, ofereceu um dinheiro pra ela e perguntou se ela podia cuidar de suas duas filhas fora do casamento. "Cuido", disse ela. E cuidou. Cuidou sempre. Cuidou quando meu avô parou de dar dinheiro. Cuidou com seu próprio suor, e ela já era idosa. E minha vó era preta. Negra linda, daquela pele marrom lustroso, que brilhava quando sorria. Minha vó fumava um cachimbo que ela mesmo preparava o fumo e acendia. Minha vó me pegava no colo, e eu sua primeira neta, branca como palmito, formava o contraste mais lindo contra a pele dela. Ela me abraçava. Me cuidava. Me cheirava, me apertava. Contava histórias pra mim. Me ensinava a dar nó em punho de rede (e eu nunca aprendi) e me deixava comer mingau com ela.
As pessoas me olhavam estranho quando eu dizia que ela era minha vó. "Mãe da sua mãe mesmo?" Sim, ué. Mãe da minha mãe. Na boca dele ficavam penduradas as palavras "Mas ela é preta..." e eles, por educação (?) não deixavam sair. Minha vó, com quase 90 anos, saía de casa e quando eu tentava impedir ela falava que ia tomar café com a Xuxa.
E com ela eu aprendi que vó, mãe, pai, et cétera, é quem cria. Que amor não tem cor. E que todo mundo merece ir tomar café com a Xuxa de vez em quando.
A progenitora verdadeira da minha era prostituta em começo de carreira, resgatada pelo meu vô em seu cavalo branco, levada para uma casa só dela, onde ela poderia criar seus filhos e alimentar o marido de outra (o meu vô). Teve minha mãe e logo depois a minha tia. E depois? Voltou a vida de antes. Não adianta príncipe de cavalo branco ir em resgate se a pessoa não quer ser resgatada.
Pois bem. Minha mãe era criança e minha tia mais criança ainda. Ambas foram abandonadas, e meu avô, que tinha outra esposa e outros filhos, não ficou sabendo de nada até o dia em que minha mãe percorreu a vizinhança segurando minha tia pela mão e pedindo comida. Uma alma caridosa contou pro meu avô.
Meu avô não gostou nada. Tirou minha mãe e minha tia de lá e levou elas embora. Encontrou uma senhora de 60 anos chamada Luíza, ofereceu um dinheiro pra ela e perguntou se ela podia cuidar de suas duas filhas fora do casamento. "Cuido", disse ela. E cuidou. Cuidou sempre. Cuidou quando meu avô parou de dar dinheiro. Cuidou com seu próprio suor, e ela já era idosa. E minha vó era preta. Negra linda, daquela pele marrom lustroso, que brilhava quando sorria. Minha vó fumava um cachimbo que ela mesmo preparava o fumo e acendia. Minha vó me pegava no colo, e eu sua primeira neta, branca como palmito, formava o contraste mais lindo contra a pele dela. Ela me abraçava. Me cuidava. Me cheirava, me apertava. Contava histórias pra mim. Me ensinava a dar nó em punho de rede (e eu nunca aprendi) e me deixava comer mingau com ela.
As pessoas me olhavam estranho quando eu dizia que ela era minha vó. "Mãe da sua mãe mesmo?" Sim, ué. Mãe da minha mãe. Na boca dele ficavam penduradas as palavras "Mas ela é preta..." e eles, por educação (?) não deixavam sair. Minha vó, com quase 90 anos, saía de casa e quando eu tentava impedir ela falava que ia tomar café com a Xuxa.
E com ela eu aprendi que vó, mãe, pai, et cétera, é quem cria. Que amor não tem cor. E que todo mundo merece ir tomar café com a Xuxa de vez em quando.
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
Só quero esse céu azul
Tá cinza em mim e eu não quero que esteja cinza. Eu quero cor, eu quero luz. Quero toda a intensidade e brilho que sempre existiu em mim. E quero que o dia brilhe. Cansei de chuva, cansei de ver esse clima xoxo. Quero sol, quero sair de casa, quero fotografar o mundo. Quero pegar a bike, dar umas voltas no lago, ouvir o canto dos pássaros e ficar em paz. Acho que tô merecendo. Tô precisando. Preciso descansar de mim mesma. Dar um tempo pra encarar as coisas com força renovada. Tô naquela fase em que tudo tá meio ruim, mas rola a vontade de que fique tudo bem. Vai passar, já passou, já foi. É isso aí.
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
Sobre esquecer.
v.t. Perder a lembrança de uma pessoa, de uma coisa: esquecer uma data.
Não pensar em: esqueçamos o passado.
Esquecer tudo. Apagar uma parte da sua vida e fingir que nunca aconteceu. Aonde guardam a borracha para se apagar os erros, as memórias, as dores e os amores? Excluir fotos, jogar fora os presentes, as lembranças, as memórias. Eu esqueço, tu esqueces e pouco a pouco o tempo vem como maré apagando tudo o que foi vivido. Cansei de perder. Cansei de me cansar. E quando tudo estiver esquecido, vou cansar de me esquecer, mas não quero voltar a lembrar.
Afinal, já dizia Renato Russo: "São tudo pequenas coisas e tudo deve passar."
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Só sei que cansei
É isso aí. Só sei que cansei. Cansei da rotina, das coisas marcadas. Cansei de ter dia certo pra limpar a casa, de ter um modo sistemático de fazer as coisas. Pra quem tem tatuagem que diz 'free bird', tô igual pássaro preso. Cansei de me humilhar, cansei de me entregar, cansei de não ter orgulho, de ser fraca, de não ter força pra dizer não pras coisas. Eu tô desanimada, eu tô triste, eu tô cansada. Vinte e um anos na cara e tô cheia de cabelos brancos. Cansei de me preocupar. Cansei de me cansar. Cansei de me preocupar com as pessoas que não se preocupam comigo. Cansei de amar e não ser amada. Eu tô tão cansada de tudo isso, e ainda assim me faltam forças pra dizer um não. Pra dar um basta. Pra gritar que chega. Só sei que quero me encolher em posição fetal, chorar o que tiver pra chorar e depois, encher a bolsa de besteiras e viajar. E esquecer. É o que eu quero. O que eu mais quero.
Apenas um cigarro.
De todas as coisas, ela estava feliz por que o dia estava quente. Arrumou lentamente a casa, sem pressa. Era horário de verão e ela sabia que o sol tardaria a se pôr. Colocou uma música pra tocar pra impedir a multidão dos seus pensamentos. Arrumada a casa, pegou uma cadeira de praia, um cigarro e uma cerveja. Colocou a cadeira na varanda da casa, onde o sol podia pegar só nas suas pernas e não no seu rosto. Sentou-se, abriu a cerveja e acendeu o cigarro. Mal tinha dado duas tragadas quando ele apareceu. Observou-a, olhando o sol batendo em suas pernas brancas, seu rosto coberto com os grandes óculos escuros, o cigarro entre os dedos e a cerveja ao lado da cadeira.
- Desde quando você fuma? - perguntou ele, fingindo não estar impressionado.
- Desde nunca, eu não fumo - ela respondeu e deu mais uma tragada, prendendo a fumaça na boca até os olhos lacrimejarem.
- E por que tá fumando agora? - ele continuava intrigado ao vê-la fazendo algo que nunca tinha feito.
- Por que sim. Por que eu preciso. E não, não vou continuar fumando, e não vou me viciar. É que hoje me imaginei, fumando, bebendo uma cerveja e tentando esquecer o que dói.
- Queria entender por que as pessoas, após sofrer alguma coisa, passam a ter hábitos que nunca tiveram. - ele falou, olhando diretamente pro sol e ficando momentaneamente cego.
- Não é óbvio? - disse ela e sorriu, um sorriso seco, carregado de ironia - As pessoas querem esquecer o trauma. Então abandonam a rotina que tinha quando as coisas estavam bem. Esse cigarro, esse único cigarro, é o meu refúgio por hoje. Vou fumar ele até acabar, encher meu pulmão de nicotina, e quando acabar, vou estar um pouco melhor. Eu não fumava quando estava bem. Mas fumei agora pra melhorar. E vou rezar pra não ter mais motivos pra fumar de novo.
Dizendo isso, ela terminou de vez a cerveja, fumou o cigarro até acabar, e ignorando ele, entrou em casa. Seus problemas podiam não estar resolvidos, mas pelo menos ela estava aliviada.
Assinar:
Postagens (Atom)