sábado, 28 de fevereiro de 2015

I've seen it all go and come back around

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Os livros abertos no chão. As flores mortas do vaso caídas por sobre a cômoda. A luz do sol de inverno entrando pela fresta na madeira que existe no meu quarto. Por entre ela o vento às vezes me traz uma folha seca. Duas, talvez. Meu suco de maracujá apodrece intacto esverdeando um copo em cima da mesa. O jornal se acumula na frente da porta de casa. O braço da agulha do toca-discos quebrou. Ela agora insiste em repetir o mesmo lado do velho disco do Dire Straits, como se tivesse sido programada pra isso. Mas nem isso é problema, por que a poeira se acumulou na caixa de som e ela não toca. Não emite som. Emudeceu. Assim como eu.

Faz silêncio na minha alma. A vida segue e eu não. As pessoas passeiam embaixo da minha janela. O gato da vizinha se instalou no meu apartamento. Come as sobras da comida. As flores na sacada também secaram. Eu culpo o inverno. Mas o meu descuido é o real culpado. Flores vítimas de mim. De meu descaso. Do meu entorpecimento.

Eu abro a boca pra falar e o barulho é de tentar tocar uma corda frouxa de violão. Sai tudo torto. A neve se acumula na varanda da cozinha. A casa se acumula tanto de solidão que não sobra espaço pra mim. Não sei o que a vida fez de mim. Só sei que respiro nostalgia. Tudo com aquele cheiro doce de poeira. Vejo o vento pelar as árvores. Vejo o sol se escondendo mais cedo. Surgindo mais tarde. Não vejo a Lua. Não saio mais na rua.

Me pergunto aonde estará você. Se o tempo passa estranho assim pra você como é pra mim. Me pergunto se aquela música da Janis ainda te faz arrepiar. Se você ainda dorme com o braço pra fora da cama. Quem sabe um dia desses te reencontrar. Te dar um tchauzinho do outro lado da rua. Quem sabe te ver, quem sabe aprender a te odiar. Tocar novamente o barquinho da vida. Apontar pra fé e remar.

P.s.: me influencio por músicas às vezes, e escrevo o que elas me passam, mesmo que não sinta aquilo de verdade. No caso desse post, foi Miss You Love, do Silverchair e Beautiful War, do Kings of Leon.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Quanto tempo o tempo tem?

Mais um desses dias em que o pôr-do-sol leva o dia embora em sua carruagem de fogo. E o tempo vai passando, vai sem dó, que dirá piedade, massacrando todos nós, arrastando os segundos como folhas secas ao vento. Vai e leva todos os planos que não foram postos em andamento. O tempo segue e faz crescer os dentinhos dos bebês, assim como os ensina a andar, põe rugas nos rostos das mulheres e aumenta a calvície dos homens.

Mas às vezes eu queria poder não viver, apenas observar, ver os ponteiros do relógio girarem incansavelmente mostrando que o tempo na verdade não espera ninguém. Observar a grama crescer, as árvores deciduais perderem suas folhas no outono, para logo depois o vento gelado do inverno consigo levar.

Queria assistir o coração da garota que se apaixonou pelo colega de sala e ele lhe deu um fora, quanta dor nele vai caber até que o tempo leve embora e não sobre mais nenhuma.

E o tempo é isso mesmo, curador de corações partidos e amenizador ou intensificador de saudades. Envelhecedor de gente/bicho/planta/tudo. Indicador de efeitos gerados por decisões sábias ou infelizes. Transformador de pequenos embriões em grandes adultos.

Esse tempo. Nem bendito nem maldito. Só incessante. Sempre pontual. Cazuza tava certo quando disse que o tempo não parava, não para mesmo.

Mas ainda assim espero que ele seja doce para mim e para você.