quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Não existe amor em SP.

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03:40 da manhã. Normal. Eu nunca conseguiria dormir cedo enquanto eu não resolvesse o que há entre eu e você. Ligo o celular esperando alguma mensagem. Não. Nada. Mas eu cansei de esperar em casa. Eu não aguento mais. Eu não posso esperar uma vida inteira, se existe esse tédio que me domina e pega pelos calcanhares, me arrasta pra um poço sem fundo onde não acho nada interessante. Decido sair. Essa cidade nunca dorme.

Não existe amor em SP. Criolo tava certo. Não existe mesmo. Eu achei que tinha encontrado um amor verdadeiro. Mas bom, Criolo já disse que Sâo Paulo é um buquê de flores mortas. Não existe amor em SP. Eu tenho medo do que pode acontecer comigo. Do que possa acontecer com a gente. Essa cidade é suja. Essa correria é louca. Eu aposto que com o tempo, vamos perder a cor e ficarmos cinza que nem essa cidade. São Paulo vai nos tragar, meu bem. São Paulo vai nos comer e nos cuspir fora. Eu tô perdendo minha sanidade aqui. Será que é a cidade ou a falta de você? Eu já nem sei dizer.

Ok. Agora são 04:16. Cadê você? Só vou guardando aqui comigo essa saudade que me pesa como um fardo nas costas. Por que eu não ligo? Eu também posso correr atrás, não? Não. Essa é sua vez. Mas tem algo que eu posso fazer. Eu vou pegar o celular e vou te mandar uma música. Se você me perguntar algo sobre isso, vou dizer que é só uma música. Mas nunca é, né, meu bem? Nunca foi. Entre nós nunca é apenas uma música. É uma coletânea de indiretas cantadas que resolvemos mandar um pro outro. Eu já te mandei I Wanna Be Yours, do Arctic Monkeys. Você respondeu com Are U Gonna Be My Girl, do Jet. Te mandei um cd do Yes. Acho que você entendeu a mensagem.

E de repente você me manda Babe, I'm Gonna Leave You. Mas porquê? Por que me mandar a música mais gostosa do Led Zeppelin? Por que me mandar justamente a música em que não se sabe dizer se a pessoa quer ir embora ou não. Você quer? Você não quer? Se decide. A vida segue e nós vamos precisar fazer isso também, juntos ou separados. Mas só de maldade te mandei Open Your Heart, do Europe. E agora, como você vai responder?

Passam mais 20 e poucos minutos. Não quero fazer cálculo nenhum agora, não agora, não quando eu tô com essa ansiedade feito cobra apertando meu peito, até eu esmagar, até meu peito explodir. 04:46. Eu ainda não consegui sair de casa. Resolvi fazer um café e sentar naquela poltrona legalzona que você me deu. Aquele que gira. Sento na bendita poltrona de um amarelo espalhafatoso, perto o suficiente da janela olhando o tráfego da madrugada. Bem mais lento, mais ainda assim barulhento. O café tá sem açúcar e pra eu não ter que adoçar, acabo bebendo assim mesmo. Tudo bem. Preciso estar bem acordada pra trabalhar o dia inteiro naquela maldita editora. Céus, como eu queria largar tudo isso.

E então, quando eu já tinha esquecido do assunto, o celular toca. 05:03. Mensagem tua. Ok, você mandou mais uma música. Here I Am, do Shaman. Começo a rir meio sem acreditar. Abro a porta e você tá ali. Na minha mente mil perguntas vão se formulando. Você entra e faz 'shhh' enquanto coloco um dedo sobre meus lábios, me silenciando. Pega o celular e coloca uma música do Skid Row. (Sério, Skid Row? Eu nem lembrava mais quando tinha sido a última vez que escutei isso). A música é Shut Up, Baby, I Love You. Olho pra ti com aquela cara de boba que eu sempre faço quando quero perguntar se é sério aquilo. Você diz que sim. A gente se abraça, e logo nossos corpos estão juntos na cama.

Mas chegou a manhã e temos que ir trabalhar. Mas teu rosto carrega uma expressão de quem quer propor alguma coisa. Te deixo quieto, juntando coragem. Te dou um beijo e me levanto pra me vestir. Você me olha e diz: "Não existe amor em SP." Olha só, Criolo de novo. Eu repito que realmente não existe amor em SP, e te conto minha teoria sobre estarmos nos tornando cinza igual à Cidade Cinza. Tipo aquela música do CPM 22. Você me chama na cama, me olha nos olhos, pega o celular e coloca Vamos Fugir, do Skank. Sério? Que clichê.

Mas vamos, baby. Vamos fugir deste lugar, baby. Um onde a gente possa ser colorido. Um lugar pra podermos nos amar.

Não existe amor em SP.

domingo, 23 de novembro de 2014

Mas vem cá.

Queria ir pra longe, um outro lugar, sob um céu azul. Talvez em teus braços, enfim, por que não? Tu canta pra mim daquele jeito de sempre, enquanto fico te olhando tocar violão, tem problema? Acho que não. Não ligo pro povo e o que vão dizer, eu quero você, só quero você. Mas vem qualquer hora, me pega na porta, aparece em casa e diz que só veio me ver. Me abraça, me pega, me leva pra cama, me diz que me ama, eu quero você. Me olha, me beija, me diz no olhar, que não vai sair, não vai me deixar. Deita aqui do lado, deixa eu olhar tua alma, deixa eu te beijar até perder a calma, deixa eu me encontrar em ti, me perder no teu corpo. E vamos ficar sentados, deitados na praia, olhando as estrelas de mais um dia comum. Saber que elas estão ali incansavelmente pra nós, e mesmo assim estão pra todo mundo. Mas vamos ficar escutando o barulho das ondas, só eu e você, aí tu me abraça e tá tudo bem, aí tudo fica calmo e eu posso respirar de novo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Pra não dizer que não falei das flores...

Thiago: Escolhe um som pra tocar.

No computador, começa a tocar Geraldo Vandré.
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Thiago: Tá, coloca algo legal.
Anna: Mas é MPB. É mais que legal. É mágico.
Thiago: Nós não somos nossos pais pra ouvir isso, né?
Anna: Não. Eu sou eu pra escutar o que eu quiser, inclusive mpb.
Thiago: Mas mpb é tão... meh.
Anna: Não, nada disso. Mpb é um som calmo. É uma música rica de instrumentos. Não tem nada eletrônico. É um som com uma letra gostosa se ouvir, cantado de um jeito que só sabe cantar quem tem talento ou quem tem sentimento com voz. Como não gostar?
Thiago: Cara, mas tem tanta coisa pra escutar...
Anna: E pra quê escutar as músicas de hoje e não escutar mpb?

Anna se reconforta na cama, puxando uma rosa de um arranjo de cima do bidê.
Thiago: ...
Anna: Meu bem... - e entrega a rosa - pra não dizer que não falei das flores.

E aí Anna vai calada até a cozinha buscar um chá quente, escutando sua boa e velha mpb, cantarolando junto. Thiago sorri e começa a prestar atenção. Ele sabia que tinha perdido. Aquele som era bom. Aquilo era mágico.

sábado, 8 de novembro de 2014

Café.

Entrou em casa e depois de jogar as coisas no chão foi imediatamente na cozinha preparar um café. Talvez tenha colocado uma ou duas colheres a mais de café. Mas isso não importava, ela preferia um café bem forte mesmo. Começou até a considerar a compra de uma daquelas máquinas de café que existem nas lanchonetes. Tudo para ter um café da tarde perfeito enquanto ela escrevia algo mais no novo livro.