sábado, 6 de julho de 2019

Tudo que não falo me transborda

Mais uma vez em um ônibus, à noite, olhando as luzes da cidade. Indo pra um evento feliz com a cabeça cheia de pensamentos tristes. A inevitabilidade da tristeza, avassaladora em seu ataque, me faz parar no meio de um riso ou de uma frase feliz. Parece que sou golpeada por um chicote de realidade que me faz lembrar que não, não estou bem. Mesmo que esse seja o caminho para estar.

Nessas horas em que me sinto golpeada, eu respiro fundo e acabo me afogando. Meu peito é uma barragem prestes a estourar, se inspiro fundo eu chego a sentir a água na garganta. É o gosto do choro que nunca vem. Foi tanta coisa em tão pouco tempo que me sinto uma peneira. Me sinto vazando por todos os lados. Como se eu vivesse num universo de RPG e alguém em uma ação contra mim tirou acerto crítico no dado e usou ataque múltiplo. Se eu soubesse explicar direito como eu me sinto, não precisaria apelar pra ações de 3D&T pra explicar.

Mas talvez eu precise me esvaziar mesmo. Talvez eu precise passar por um tempo que nem boneco de posto murcho: quieta e na recolha, esperando o ar que vai me dar vida novamente. Enquanto isso, sigo torcendo pra barragem romper. Se eu fosse fazer antes disso um EIA/RIMA do meu coração, essa obra estaria ambientalmente condenada. Mas finalmente fiz meu Estudo de Impactos Ambientais e concluí que esta obra está prestes a ruir. Agora é deixar ruir e construir algo novo. Nada de construir dique novo por cima de obra velha.

Enquanto escrevia o parágrafo anterior eu olhei a Lua. Crescendo. Começando a ter luz depois de sumir em escuridão. Acho que de tanto minguar, eu tô finalmente me preparando pra crescer.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

There's a devil crawling along your floor


Tem dores que eu só curo quando boto no papel. "Botar no papel" é a expressão que eu gosto de usar pra quando decido abrir as comportas do coração e afogar meus sentimentos em uma onda de palavras que corre dos meus dedos. Eu dizia pra mim mesma que o fato de eu não mais escrever era sinal de que eu estava bem. Bem? Eu não tô bem coisa nenhuma.

Eu tenho tanta coisa pra despejar pra fora do peito que nem sei por onde começar. Divido em tópicos? Um texto pra mais recente decepção amorosa, outro para juntar as frustrações de ser eu mesma. Um só pra falar do desarranjo químico que há em minha cabeça.

Hoje, lendo o site do Nick Cave e como ele responde aos fãs, ele disse que nunca senta em sua mesa com uma ideia pronta. Todas as suas ideias começam com uma coisa: ele se preparando pra escrever, depois sentando em sua mesa. Acho que esse post é isso: sou eu seguindo o conselho do Nick Cave e me sentando na frente da minha escrivaninha proverbial. Eu já usei a expressão de "abrir as comportas do coração", né? Uma pena. Queria usar de novo, por ser justamente assim que estou me sentindo agora: uma enxurrada de emoções.

Semana passada eu, logada no meu atual perfil do Last.fm, resolvi olhar o antigo. Uma surpresa: a baixa compatibilidade musical de um perfil e outro. Honestamente, não sei se isso acontece por eu não ser mais eu mesma ou por estar escutando tanto as mesmas músicas de sempre do Baco Exu do Blues e Nick Cave. Meu outro perfil não reconhece isso. Meu antigo eu não reconhece quem eu sou agora. 

É quase como se meu antigo eu e meu novo eu se deparassem um com o outro. O novo eu se pergunta como o antigo eu conseguia lidar com toda aquela dor. O antigo eu se pergunta se foi pra chegar a esse ponto que aguentou tanta coisa no passado. E ambos suspiram ao pensar em novos desafios. A cabeça pesa. O peito também. 

O resumo é isso: eu tô cansada. Angustiada. Às vezes me sinto perdida, mas não de não saber aonde estou. Me sinto perdida por não saber como fazer pra sair daqui. Cheguei no triste momento que quero morrer o tempo todo, mas nem tento. Só aceito que não dá pra buscar a morte, mas assim eu também sinto como se não valesse buscar a vida também.

Pode ser que amanhã, menos angustiada, eu consiga canalizar melhor o que sinto. No momento me sinto perdida: sou um rio tão transbordante que me perco em braços e canais, tantos que não consiga dar conta. São tantos canais de água abertos, que quando minha foz se contamina, eu nunca sei de onde vem.

Fico constantemente alternando a minha vontade de descobrir quais braços maculam o rio versus a vontade de bloquear a fonte da água. Totalmente. Como se nunca tivesse existido. Sigo assim. Me desaguando por aí sem me acumular em lugar nenhum.