Mais uma vez em um ônibus, à noite, olhando as luzes da cidade. Indo pra um evento feliz com a cabeça cheia de pensamentos tristes. A inevitabilidade da tristeza, avassaladora em seu ataque, me faz parar no meio de um riso ou de uma frase feliz. Parece que sou golpeada por um chicote de realidade que me faz lembrar que não, não estou bem. Mesmo que esse seja o caminho para estar.
Nessas horas em que me sinto golpeada, eu respiro fundo e acabo me afogando. Meu peito é uma barragem prestes a estourar, se inspiro fundo eu chego a sentir a água na garganta. É o gosto do choro que nunca vem. Foi tanta coisa em tão pouco tempo que me sinto uma peneira. Me sinto vazando por todos os lados. Como se eu vivesse num universo de RPG e alguém em uma ação contra mim tirou acerto crítico no dado e usou ataque múltiplo. Se eu soubesse explicar direito como eu me sinto, não precisaria apelar pra ações de 3D&T pra explicar.
Mas talvez eu precise me esvaziar mesmo. Talvez eu precise passar por um tempo que nem boneco de posto murcho: quieta e na recolha, esperando o ar que vai me dar vida novamente. Enquanto isso, sigo torcendo pra barragem romper. Se eu fosse fazer antes disso um EIA/RIMA do meu coração, essa obra estaria ambientalmente condenada. Mas finalmente fiz meu Estudo de Impactos Ambientais e concluí que esta obra está prestes a ruir. Agora é deixar ruir e construir algo novo. Nada de construir dique novo por cima de obra velha.
Enquanto escrevia o parágrafo anterior eu olhei a Lua. Crescendo. Começando a ter luz depois de sumir em escuridão. Acho que de tanto minguar, eu tô finalmente me preparando pra crescer.